Personen
Leilac Leamas
NUR Codes (sub)
300 Literaire fictie algemeen
Pakket De helden van David
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Zomer pakket C | Dwarsligger 2 en 1
Impõe-se, antes de mais, uma amputação simbólica: isto não é um livro de amor. Nem de cartas. Nem sequer de redenção. Isto é uma hemorragia contida em papel e, por isso, talvez te sangre devagar, como uma navalha esquecida no bolso interior de um casaco. A que se volta quando já se perdeu o combate. Disseram-me, mais do que uma vez, que escrever cartas de amor é sinal de fraqueza. Eu discordo. Fraqueza é fingir que não se sente. Fraqueza é decorar discursos sobre desapego enquanto se sonha com um toque que já não existe. Fraqueza é ter palavras e não as usar. Amar é outra coisa, é uma espécie de violência permitida, um vício de que não se pode reabilitar. Não sei se alguma vez amei. Claro que sim, que estupidez. Claro que amei, senão não escrevia este livro. Na verdade, não sei sequer se o que senti era amor, ou se era só uma carência bem vestida, com sapatos italianos e promessas irónicas que a vida me fazia. Sei apenas que escrevi. E isso bastou. Escrever foi sempre o meu modo de me fingir vivo. E se há cartas neste livro, é porque houve silêncios demasiado densos para suportar. As cartas são mais reais do que os corpos. Não envelhecem. Não mudam de perfume.